Cultura Idolátrica

Author: Tatiana Oliveira Lima / Marcadores: ,



Primeiramente, acho necessário esclarecer algo. Vocês devem estar se perguntando por que a subjetividade está tomando conta do blog. Bem, acredito que não seja apenas a subjetividade, mas a opinião em si. A questão é que acredito que os assuntos mais urgentes são os de interesse geral, assuntos cotidianos, que já podem ter vindo a passar pela mente de muitos, e incomodado muitos outros.
Tendo dito isso, quero falar sobre algo que me perturba, a idolatria.
Quando me refiro à idolatria, não falo de sair rezando, acreditando que uma pessoa ou ícone irá resolver todos os seus problemas, bem, talvez não somente com a reza (a esperança de que alguém irá resolver todos os seus problemas é interminável para muitos).
Nosso querido dicionário Aurélio define idolatria como adoração de ídolos, amor exagerado. É impressionante como as pessoas podem vir a pensar em outras pessoas como superiores, quase não humanas, capazes de tudo e com um poder de conseguir tudo o que querem e manter a vida perfeita ao mesmo tempo.
Exemplos vivos (ou mortos) são as celebridades. Quem está do lado de fora, a audiência, o público, acredita que aquela imagem vendida a eles é a imagem real do artista, é a realidade de sua vida 100% do tempo. Mas um cantor, ator, escritor, ou qualquer outra celebridade é também um ser humano e, pasmem, eles têm sentimentos: Frustram-se, revoltam, amam, odeiam, falam besteira, se divertem, fazem e desfazem amizades e outros laços, e, sei que é difícil acreditar, mas até vão ao banheiro fazer as necessidades físicas que todos, nós meros humanos, temos (não se desiludam, a verdade não é sempre – ou quase nunca - bonita).
Talvez essa necessidade de colocá-los em um pedestal venha da famosa projeção de que Freud falava, gostaríamos que nossa vida fosse perfeita, então colocamos nossas frustrações e desejos em outras pessoas que passam essa imagem para nós.
Tudo bem, precisamos de uma válvula de escape, mas os pobre coitados (muitos menos pobres que coitados) tentam ganhar a vida fingindo ser outras pessoas e não tem muito a ver com isso. Sei que muitos gostariam de sê-los, mas não deve ser fácil manter uma imagem que muitas vezes não te pertence diante de um público tão exigente, e muitas vezes sanguinário, se é que posso afirmar dessa forma.
Constantemente vemos os próprios intocáveis queixando-se dos fãs desenfreados, da profissão desvalorizada e de como a vida deles não tomou o rumo desejado. Sem querer citar nomes, mas vários modelos de perfeição, de união entre irmãs, de família ou de casal perfeitos, também desabam. Às vezes nem desabam, pois a imagem passada não é nada além de fachada, uma situação construída para atrair o público – com sucesso, se me permitem dizer.
Como conseqüência da expectativa dos obcecados, esses frágeis seres humanos (as celebridades, não os sanguinários) acabam não suportando a carga e entrando em vícios descontrolados que podem vir a acabam com a sua real vida e personalidade.
Mas analisando bem, é perfeito! Perfeito colocar nossas vontades em outras pessoas. Sim, pessoas! O que a massa (parte da população que não se organiza e não possui opinião bem formada, mais formada pela mídia que por discussões e opiniões próprias, como Adorno se deliciaria em dizer) costuma fazer é julgar esses seres superiores e grandiosos caso eles cometam falhas e mostrem não ser “aquele” modelo que todos gostariam que fossem.
É, não deve ser fácil ter expectativas que não são suas em cima de você, imagine esperanças de uma população imensa que você desconhece e não sabe do que é capaz, de onde muitas vezes sai um indivíduo anônimo e dá um tiro em um papa ou em um presidente, quem dirá o que fariam com uma celebridade caso seu vilão seja terrível demais para a compreensão do público?
Pode parecer exagero, mas sim, muitas vezes as pessoas se envolvem tanto em uma história contada e produzida por outras pessoas que acabam se envolvendo tanto a ponto de confundir a realidade com a ficção, e esse é um cruzamento perigoso.
Só levanto esse problema aqui a fim de reflexão. Em um mundo onde os ideais da revolução francesa reinam - os quais incluem a liberdade, igualdade e fraternidade –  as pessoas andam se diferenciando cada vez mais e dando graus de importância diferenciados aos indivíduos.
Tenho uma revelação a fazer: no fim do dia, somos todos cidadãos. Todos nascidos de algum lugar, e todos morrerão em algum lugar também (triste, mas é a única certeza da vida, como diriam alguns sábios).
No final, seremos cadáveres debaixo da terra sendo material para adubo de outros seres vivos. Deprimente? Não, eu diria motivador, pois assim pode-se perceber a semelhança entre as pessoas cheias de falhas, defeitos, e qualidades também (pense como quiser), não há necessidade de ver uma como mais importante, fazemos parte da mesma raça deprimente de homo sapien sapiens que faz questão de destruir o mundo em que vive (direta ou indiretamente), mas isso já é pauta pra outra discussão.
TOL